“Brasileiro é tão bonzinho”
O brasileiro mais uma vez foi surpreendido por uma catástrofe. A exemplo de Santa Catarina e Alagoas, agora o Rio de Janeiro se debate sob a fúria da natureza que se revolta. Que o poder público pouco faz para amenizar os reflexos dessas tragédias já se sabe, porque o cidadão habituado a falta de proteção do guarda-chuva dos manda-chuvas da política, espera pouco ou quase nada dos seus adoráveis representantes. O que estarrece milhões de brasileiros compadecidos com a dor de um semelhante, são os atos indecentes e canalhas de alguns indivíduos que usurpam o direito que tem o sofrido flagelado, de ver em suas mãos bens de primeira necessidade que lhe aliviariam a falta de tudo que foi levado pelas águas. Em Santa Catarina foi denunciado o desvio de donativos por soldados e por mercadores imorais, em Alagoas, um galpão “abarrotado” de produtos incendiou-se antes da distribuição. No entanto, o brasileiro por ser “tão bonzinho” continua doando, mas, até quando? Até quando o cidadão de boa fé ficará impassível diante da enchurrada de malandros que fazem desaparecer no lamaçal da impunidade, a sua suada contribuição aos menos afortunados?
Por falar em fé, como muitos gostam de fazer uma “fezinha”, daqui a pouco alguém abre uma bolsa de apostas e anuncia: “A bolsa da tragédia natural está pagando 5 / 1 que somente 60% dos donativos chegarão ao destino”. Ou então vale uma apostinha entre amigos: “E aí Chicão, vamos apostar que chega a minha doação e a tua não?”. E quem os poderia condenar? isso nada mais é, do que o reflexo do descaso com que é tratado tudo que pertence ao povo. Principalmente ao povo pobre.
É justo que continuem as campanhas para a arrecadação de roupas e alimentos, mas também é da mesma forma justo que esses bens cheguem integralmente a quem se destina, e que os altruístas de araque sejam punidos com rigor. Mas, infelizmente, como “brasileiro é tão bonzinho” vai deixando passar essa também, e os infiltrados continuam a se aproveitarem do sofrimento alheio. Que sirva de alerta, já existem pessoas pensando algumas vezes, não duas, antes de doar qualquer coisa. E, corre-se o risco do brasileiro deixar de ser tão bonzinho. Ou, de outra forma, transformar-se de uma vez na figura satirizada pelo bordão de um programa humorístico da década de 70, onde uma “gringa” repetia com sotaque e voz manhosa, “brasileiro é tão bonzinho.”
Miguel Cerqueira
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