Êta sêca medonha! A terra isturricada,
E um sufrimento sem tamanho.É uma dificuldade nóis ter água de beber,
Imagine pra tomar um banho.
Mas o qui mim parte o coração,
No isolamento desse mundão,
Num é nem a sede qui sinto,
Nem também a farta de pão.
O qui mim deixa mermo triste
E mim chega água nos zóio,
Qui num sei como inda ixiste,
É quando pranto os juêi no chão
Nesse inorme e rachado torrão
Com o sol a quemá meu lombo
Bebo a água da criação.
Qui o home passe aperto,
Pois tem lá os seus pecado,
Mas os bicho, por que?
Por que morrê de sede,
Minha burrinha e meu gado?
Meu Senhor onipotente
Ajueiado peço perdão,
Pela minha farta de senso
Pelas minha palavra em vão.
É que aqui pra essas banda
Quando a ira se disperta,
É nóis sintino no estombo
O siná que a fome aperta.
A farta do qui cumê,
Um minino chorando de fome
Outro quereno morrê.
A muié maga feito um calango,
E eu quais nada pudeno fazê.
A num sê me botá nas andança
Percurano arguma cumida
Pra mode botá na pança.
Pur tudo isso é qui Ti peço,
Que alivie o sufrimento,
Pra que o pobre sertanejo
Possa as vez sorri contente,
Pra nóis num vê a toda hora
Morte de bicho e de gente.
E sentir como todo mundo
Prazer com a água e o vento,
E tê antes do fim,
Uma veizinha que seja,
Fartura de água e alimento.
Meu Senhor eu lhe suplico,
Que mais uma vez me perdoe
Por minha agonia e farta de jeito,
Se por má conhecer as palavra
Num tiver rezando direito.
Mas Te rogo do jeito que sei,
Acode meu sertão quirido
Que sem Tu, nóis tá perdido!.
Miguel Cerqueira
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